Sobre os contos de fadas

Eu queria que ele me beijasse. Como a Bela Adormecida, eu esperava acordar e ver que era tudo fruto de um sonho. Mas não é, na verdade é bem real. E eu acordei justamente porque não tem beijo, nem vestido dos sonhos, nem príncipe. Nem nada. Tem o meu esforço, tem o trabalho que vai dar realizar todos os meus sonhos. Que legal pensar 'meus sonhos' com propriedade. É diferente de dizer minha casa, quando a casa é das nossas famílias, quando digo 'meus sonhos', eu de fato sinto eles meus. 
A diferença entre a minha vida e um conto de fadas fica evidente quando as contas no início do mês chega e eu tenho que coloca-las em dia. Quando eu tenho que ler textos de filosofia aplicada e teorias da comunicação, pra não tirar nota baixa nas primeiras provas do semestre. Quando não tem mais príncipe, nem cavalo branco, nem castelo, nem fantasias. Agora eu tenho um monte de realidades. Não são realidades tão duras nas quais eu possa me firmar, mas não são de algodão também. É tudo novo. Agora existe esse sentimento de satisfação que nasce a cada escolha estranha que tenho feito, a cada coisa que faço de uma forma melhor. Com certeza faço muitas coisas melhor do que já fiz um dia.
Devo ter envelhecido uns três anos nesses últimos dois meses. Devo ter ficado mais saudável. Devo estar com um sorriso mais sincero e com olheiras enormes por causa da insônia. Ando mais segura e com o passar dos dias cada vez menos carente. Ando mais otimista, mais corajosa, mais mulherzinha , mais musical, mais humanista. 
Também ando menos. Muito menos enxerida e topetuda! Ando falando menos, me exaltando menos, me envolvendo menos... sabe aquela auto-suficiência? Pois é, ela sumiu.
Que saudade do meu príncipe. Mas como eu disse no começo do texto, minha vida não é um conto de fadas, nunca quis um pra ser sincera. Então, não tem príncipe, nem beijo. 

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