Texto alheio: Uma história de silêncios


Na terça-feira à noite, quando você está prestes a dormir, é pra mim que você liga para conversar da vida. E quando precisa de um abraço reconfortante, é para os meus braços que você corre. Sou eu que seguro sua onda, que agarro sua mão e que estou sempre aqui para o que você precisar. Mas não sou eu que você leva para os seus almoços de família. Não é em mim que você coloca uma aliança no dedo e sai por aí, desfilando pra cima e pra baixo. Não sou eu que posso dizer para o mundo que você é meu. Ainda que, só entre nós dois, você seja.
Essa não é uma dessas histórias bonitas que a gente quer contar para os netos quando for mais velho. Não é dessas coisas que a gente divide com a primeira pessoa que aparecer. Não é algo que, de verdade, a gente se orgulhe. Nossa história, na verdade, é formada de silêncios. Um romance que quase ninguém pode saber. O que não tira a beleza do amor que eu sinto por você. E que eu sei que você também sente por mim.
Se eu fosse seguir o que eu costumava acreditar, talvez eu nunca voltasse para você. Se eu fosse respeitar o que todo mundo diz que é certo, talvez eu deletasse seu número do meu celular. Mas eu continuo voltando, te ligando, te esperando. Porque no coração a gente não manda. E o meu coração é inteirinho seu, por mais que eu tenha tentado evitar.
E eu queria, como todas as outras namoradas do mundo, gritar nosso amor ao sete cantos. Mas eu guardo, porque é o que você ainda me pede. E o peso sobra para o lado de cá.  Sou eu que me escondo em dias planejados, que escorrego em mensagens codificadas e que abafo declarações que não posso dar. Enquanto você não faz nada pra mudar e me tirar desse posto horrível de ser a outra.
Eu me sinto culpada por ser a outra e também te amar. Por ser a outra e não querer desistir de você. Por ser a outra e me esconder dos olhares do mundo só para ter a certeza de que você vai continuar voltando para mim. Eu me sinto culpada por ser a outra e ainda acreditar que um dia eu virarei a oficial. Eu me sinto culpada porque eu sei que se um dia nossos silêncios forem quebrados, sou eu que carregarei os dedos apontados para mim. Enquanto isso, sou eu, a outra, que aguento, calada, seus outros beijos, outros abraços e outras declarações. Para alguém que não sou eu.
Eu só queria que você soubesse que é por amor. Ainda que por um amor proibido, feio, horrível. Ainda que por um amor que eu não me orgulhe. Eu queria que você soubesse que eu só acredito em você por carinho. Cada vez que diz que vai acabar e correr para mim. Cada vez que me jura que um dia eu poderei te dar a mão e sair a qualquer do dia com você por aí. Porque quando você me olha daquele jeito, o mundo todo para de fazer sentido. E o peso de ser a outra fica um pouquinho menor. Porque eu acredito em você, no seu amor e nas suas palavras. E que, um dia, quem sabe, é só pra mim que você vai ligar. Porque não importa o que digam, só o que nossos silêncios guardam:
A verdade é que a outra também ama.

Texto de Karine Rosa que é jornalista, tem 22 sonhos e um punhado de anos no coração. É uma aspirante à escritora, e eterna crente nas pessoas e no mundo. Dessas pessoas - loucas - que acham que o amor resolve tudo. Tudo.

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